segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Guardou na última gaveta as armas,ainda quentes dos disparos recentes
Achou que dificilmente as usaria de novo
Havia findado a guerra,e ele se viu também sem muita utilidade
Decidiu que iria descansar,conformado com suas idéias


Deitou de barriga pra cima na cama velha,que rugiu,cedendo ao seu peso,que não era tanto assim
Tocou o rosto e sentiu,a barba longa,escondendo cicatrizes e marcas do passado
Sentiu sede,não havia água para beber
nada para beber
Não conseguiu dormir
Abriu as torneiras
A garganta doía,seca

Chorou grossas lágrimas,que lhe desceram o rosto atravessando a barba,
e lhe mataram a sede

Sentiu fome
Haviam pedaços mofados de pão,que lhe alegraram a alma,e o satisfizeram

Deitou-se novamente,dormiu um sono longo,do qual jamais queria acordar
E não acordou,dormiu ali pra sempre.No frio,lembrou-se do calor dos disparos de sua arma para que pudesse se esquentar,das lágrimas e do pão,para saciar suas ânsias.

Lembrou também de suas vítimas durante a guerra,do sangue que o banhou,da lama que cobriu sua roupa,das noites que tentava recuperar no seu sono eterno

Perdeu a conta das quedas que provocou,mas conseguiu esquecer que o fez por um motivo que nunca soube,obedeceu a alguém que nunca conheceu

Agora dormia sono profundo,sem sentido,
sem necessidade.Não estava cansado,nem velho demais
dormia para tentar esquecer,mas não tinha êxito.

Lembrava,e iria continuar lembrando,enquanto durasse o sono sem término.

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